ASCO 2020: Corpo clínico do ICB comenta os principais estudos apresentados no maior evento de Oncologia do mundo
Neste fim de semana, de 29 a 31 de maio, aconteceu o encontro anual da American Society of Clinical Oncology (ASCO). O evento – que foi realizado pela primeira vez no formato virtual em decorrência da pandemia da Covid-19 – apresentou os mais recentes estudos da área, trazendo um novo olhar sobre o tratamento de diversos tipos de câncer.
Os especialistas do ICB participaram do encontro virtual e comentaram as pesquisas mais importantes.
Câncer de mama
Um dos principais pontos do encontro foi focar na qualidade de vida do paciente. Nos estudos apresentados sobre os tratamentos de câncer de mama podemos ver isso com muita clareza.
A Drª Camila Tapia, oncologista do ICB, comenta três pesquisas sobre este tipo de tumor do ASCO 2020.
A sessão dedicada a Câncer de mama – doença localizada ressaltou a importância de ‘escalonar’ e ‘descalonar’ os tratamentos. A terapia oncológica deve ser eficaz no sentido de diminuir a chance da doença recidivar em pacientes de alto risco mas também deve evitar toxicidades desnecessárias às pacientes que são de menor risco de recidiva.
Já estudo randomizado em pacientes com câncer de mama EC II-III HER2 superexpresso confirma os resultados de que antraciclina não aumenta eficácia, não tem benefício em aumento de sobrevida e está associada a maior toxicidade.
Também pudemos ver um estudo bastante esperado que mostram que pacientes que se apresentam já ao diagnóstico com câncer de mama metastático não têm melhora de sobrevida quando submetidas a tratamento locorregional com cirurgia e radioterapia do tumor primário.”
O Dr. Douglas Manfroi, oncologista clínico, ressalta as discussões em torno da imunoterapia para tratar câncer de mama.
A imunoterapia vem demonstrando resultados satisfatórios em câncer de mama triplo negativo. Em estudo apresentado, de fase III, foi avaliado o uso de Pembrolizumabe em primeira linha de tratamento metastático associado a quimioterapia versus quimioterapia isolada. O resultado trouxe benefício significativo em sobrevida livre de progressão, com perfil de toxicidade seguro. Os autores do estudo mostram que há um papel para o uso do Pembrolizumabe associado a quimioterapia nesses pacientes. Também foi enfatizado tratamento da doença HER2 positivo com a nova droga Tucatinib, cuja aprovação aguardamos no Brasil.
O Dr. Rafael Botan comenta um estudo que confirma uma prática clínica para este tumor.
O estudo KATLIN mantém tratamento com trastuzmabe com paclitaxel para câncer de mama e o estudo PANDA, que demonstrou que uma quimioterapia menos agressiva, tem a mesma eficácia que uma quimioterapia mais tóxica, o que é especialmente importante para paciente idosos.
Câncer ginecológico
As principais novidades nesta área foram para o câncer de colo de útero e para o câncer de ovário, como analisa a Drª Luiza Weis, oncologista do ICB
Estudos com pacientes de câncer de colo uterino em estágio inicial, avaliando biópsia de linfonodo sentinela versus linfadenectomia e quimioterapia e radioterapia de forma combinada ou sequencial após cirurgia, mostraram a necessidade de estudar novas abordagens para oferecer tratamentos com melhor tolerância e eficácia semelhante. Já para o câncer de ovário, os achados foram que algumas pacientes com recidiva de câncer de ovário podem se beneficiar de uma segunda intervenção cirúrgica, o que tem impacto positivo em sua sobrevida; e que estudos que utilizaram uma classe específica de remédios em pacientes portadoras de câncer de ovário metastático com mutação do gene BRCA demonstram a importância desse tratamento em aumentar a sobrevida dessas pacientes e a possibilidade de tratá-las sem quimioterapia.
Câncer de pulmão
Os estudos para o câncer de pulmão também trouxeram dados importantes para qualidade de vida dos pacientes e sobrevida, como destaca a Drª Alessandra Leite, oncologista do ICB.
O estudo ADAURA mostrou um aumento em Sobrevida Livre de Doença muito significativo com o uso de Osimertinibe (terapia alvo oral) no tratamento adjuvante do câncer de pulmão operado com mutação de EGFR. Os dados podem representar em breve uma importante mudança no tratamento desta doença. Outra pesquisa apresentou que novas combinações com imunoterapia se mostraram eficazes no tratamento de primeira linha do câncer de Pulmão avançado, trazendo mais opções para os pacientes com importante redução de toxicidades e impacto direto em qualidade de vida.
Melanoma
A Imunoterapia também trouxe benefícios para pacientes de melanoma.
Novas combinações com imunoterapia se mostraram eficazes no tratamento de primeira linha do câncer de Pulmão avançado, trazendo mais opções para os pacientes com importante redução de toxicidades e impacto direto em qualidade de vida, comenta Drª. Alessandra.
Câncer de rim
Hereditariedade e imunoterapia foram os destaques do tratamento para câncer de rim.
Estudo apresentado na ASCO 2020 mostra que, apesar da experiência do painel genético no manejo do câncer de rim hereditário, o consenso alcançado foi em apenas 66% dos testes. E que embora muitas questões precisem ser discutidas mais adiante, isso pode ser usado para orientar médicos e pacientes sobre quem, o quê, quando e como deve ser realizada a avaliação genética dos riscos do câncer de rim.
Outro estudo avaliou separadamente pacientes com menos de e mais de 40 anos através de perfil genômico abrangente nos tumores renais metastáticos e foi demonstrado naqueles com mais de 40 anos: maior diferença em alteração genômica, mais comum em homens e maior carga mutacional tumoral. Esses achados podem desempenhar papéis importantes no planejamento de futuros ensaios clínicos projetados para personalizar o tratamento renal metastático.”, comenta Drª Larissa Campos, oncologista ICB.
“Ficou clara a força da imunoterapia no tratamento do câncer de rim. A maioria dos estudos avaliaram a melhor combinação de medicamentos mantendo-se como base um imunoterápico.”, analisa Dr. André Japiassú.
Câncer de bexiga
Mais uma vez, a imunoterapia é destaque em tratamento oncológico.
A terapia de manutenção com avelumabe (Anticorpo que bloqueia o PD-L1) vs placebo prolongou significativamente a sobrevida global em pacientes com carcinoma urotelial avançado que não progrediram na quimioterapia de primeira linha com base em platina. O benefício de sobrevida foi observado entre todos os pacientes do estudo que usaram o avelumabe de manutenção após 6 ciclos de quimioterapia baseado em platinado. O benefício foi maior em pacientes cujo tumor expressava o PD-L1 positivo mas benefício em aumento de tempo de vida foi observado em todos os subgrupos pré-especificados, comenta Dr. Rafael Amaral.
Câncer de próstata
Importantes resultados também foram encontrados para o tratamento de câncer de próstata, como explica o Dr. André Japiassú.
“No tratamento do câncer de próstata, foi a apresentado um novo radiofármaco, que se mostrou foi superior à quimioterapia.”
Dr. Douglas Manfroi dá destaque para novo medicamento que provoca menos efeitos colaterais em pacientes com risco alto de doenças cardiovasculares.”
“A droga Relugolix, medicamento via oral com o objetivo de castração química, tem o potencial de se tornar o novo padrão para a supressão de testosterona para pacientes de câncer de próstata avançado sensível a castração, às custas de menor toxicidade cardíaca.”
Doença rara
Dr. Douglas Manfroi avaliou como promissores os resultados apresentados para tratamento de doença trofoblástica gestacional
“Importante estudo de imunoterapia na ASCO 2020 para doença rara. O avelumabe demonstrou eficácia em pacientes com doença trofoblástica gestacional que apresentam resistência a mono quimioterapia com perfil de toxicidade seguro.”
Covid-19
O ASCO 2020, como esperado, dedicou uma sessão para discussão sobre o impacto da pandemia do COVID-19 nos pacientes oncológicos.
Relatos iniciais mostram que pacientes oncológicos infectados por esse vírus tem maiores taxas de mortalidade e complicações, comparados à população em geral. Pacientes com tumores torácicos são considerados de maior risco, explica Dr. Camila Tapia.